4 décadas de história, cultura e tradição na Marquês de Sapucaí!
Em setembro de 1983, o governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, junto com seu secretário de Cultura, Darcy Ribeiro, anunciou a construção da Avenida dos Desfiles. Em apenas cinco meses, a estrutura foi erguida e inaugurada.
Com a inauguração em 1984, a Marquês de Sapucaí tem sido o palco de espetáculos deslumbrantes, emocionantes e inesquecíveis que encantam o mundo todo.
Pela primeira vez na história, as principais escolas de samba do Rio de Janeiro foram distribuídas em dois dias de desfiles, cada dia com sete escolas. Essa divisão atendia a um antigo desejo dos sambistas, assim como a necessidade de um local permanente para a realização da festa, surge então a Marquês de Sapucaí.
Para celebrar essa data tão especial, vamos relembrar alguns dos desfiles mais memoráveis que marcaram esses 40 anos de pura magia.
Mangueira 1984 – “Yés, Nós temos Braguinha”
Homenageando o compositor João de Barro, a Mangueira apresentou um desfile marcante dividido em três quadros: “A Bela Época”, “Festa Junina” e “Carnaval”. O enredo, apresentado pelo carnavalesco Max Lopes.
O encerramento do segundo dia de desfiles, na segunda-feira, coube à Mangueira. No entanto, ao chegar à Praça da Apoteose, onde ocorreria a dispersão, a escola surpreendeu a todos dando meia-volta e retornando à concentração. Essa decisão resultou em uma apresentação que se estendeu por três horas, com todos os carros alegóricos.

Álvaro Luiz Caetano, então integrante da ala de compositores e futuro presidente da Mangueira, explicou que o retorno ocorreu devido à falta de recursos para contratar pessoas que empurrassem os carros alegóricos. Assim, optaram pelo caminho mais curto de volta ao barracão, próximo ao início da passarela.
O samba-enredo foi composto por Jurandir, Hélio Turco, Comprido, Arroz e Jajá, com interpretação de Jamelão. Mais tarde, foi regravado por Jurandir para o álbum “10 Anos de Samba-Enredo – GRES Estação Primeira de Mangueira”.
“É no “Balancê, balancê”
Que eu quero ver balançar
É no balanço que a Mangueira vai passar”
Naquele ano, o primeiro em que ocorreram dois dias de desfile para as escolas de samba, a primeira divisão foi dividida em dois grupos, resultando em dois concursos distintos. Mangueira e Portela, duas das escolas mais tradicionais, conquistaram a vitória, uma no desfile de domingo e outra no de segunda-feira. Em seguida, um novo concurso foi realizado no sábado seguinte ao Carnaval, reunindo as melhores escolas de cada dia de desfile, juntamente com as melhores do grupo de acesso. No desfecho, a Mangueira consagrou-se como “supercampeã”.
Portela 1984 – “Contos de Areia”
A Portela prestou uma emocionante homenagem aos seus ícones Paulo da Portela, Natal e Clara Nunes. Cada um foi associado a um orixá, dando vida aos vibrantes “Contos de Areia”, uma obra repleta de versos curtos e impactantes. O desfile foi marcado pela presença de familiares dos homenageados, que emocionaram o público com sua participação na concentração. Além disso, a Portela inovou ao trazer um carro alegórico que representava o “Trem do Tempo”, simbolizando a viagem através das histórias contadas. O enredo foi desenvolvido pelos carnavalescos Edmundo Braga e Paulinho Espírito Santo.
A Portela, representante do azul e branco de Madureira, deu início ao seu desfile já nas primeiras horas da manhã de segunda-feira, por volta das 6 horas, após as apresentações de Unidos da Tijuca, Império da Tijuca, Caprichosos de Pilares, Salgueiro e União da Ilha. Com um contingente aproximado de 6.000 componentes, um número considerável para a época, a escola adentrou a Passarela com firmeza. No momento de aquecimento, uma atmosfera de emoção tomou conta com um minuto de silêncio em respeito à morte de Clara Nunes – este seria o primeiro desfile da Portela sem a presença da aclamada cantora.

A águia, símbolo maior da agremiação, surgiu como se emergisse do mar, exibindo apenas a cabeça. O desfile teve início na Bahia, o berço dos orixás. Em seguida, foi dividido em segmentos, começando com a homenagem ao fundador Paulo da Portela, o arquiteto do mundo azul e branco, representado pelo orixá Oranian. Para homenagear Natal, rememorou-se a figura do orixá Oxossi. E concluindo com a homenagem a Clara Nunes, personificada pelo orixá Iansã, evocando os ventos e tempestades, e também trazendo as congadas e reisados de Minas Gerais, a terra natal da homenageada.
O desfecho do desfile foi marcado por uma emoção única, com uma nova águia no setor denominado “Portela na avenida”, coincidentemente uma música gravada pela cantora que por muitos anos embalou os ensaios da bateria da escola. A passagem arrebatadora da Portela culminou na conquista do campeonato do desfile de domingo, superando o Império Serrano, que ficou em segundo lugar e desfilou logo em seguida, e a surpreendente Caprichosos de Pilares. As três escolas participariam do super-campeonato no sábado.
O samba-enredo foi composto por Dedé da Portela e Norival Reis.
“Jogo feito, banca forte
Qual foi o bicho que deu?
Deu águia, símbolo da sorte
Pois vintes vezes venceu”
Caprichosos de Pilares 1985 – “E por falar em Saudade”
Inovando com o verbo “saudadear”, a Caprichosos criticou questões políticas e expressou nostalgia por elementos como bondes e gasolina barata. Apesar do 5º lugar, o desfile marcou a Sapucaí com seu samba irreverente. O ponto alto do desfile foi a representação humorística dos políticos da época, que arrancou gargalhadas do público presente. Além disso, a escola trouxe uma ala coreografada de passistas com figurinos que remetiam aos antigos carnavais, proporcionando uma viagem nostálgica no tempo. O enredo foi desenvolvido por Luiz Fernando Reis e Flávio Tavares.
Na noite de segunda-feira, 18 de fevereiro de 1985, a Caprichosos foi a sétima escola a desfilar, durante o segundo dia de desfiles do Grupo 1A. Atrasos significativos haviam sido causados pelos problemas enfrentados pela Acadêmicos de Santa Cruz, que desfilou como segunda escola naquela noite. Contudo, as alas, adornadas com fantasias leves e coloridas, e o samba empolgante conquistaram o público presente. Ao término do desfile, a Caprichosos emergia como uma das favoritas ao título.

Na Passarela, a escola apresentou uma crítica perspicaz à evolução dos costumes, abordando temas como as eleições indiretas para presidente da República (no ano anterior, a emenda das Diretas Já havia sido derrotada) e a decadência do futebol brasileiro, entre outros.
Apesar de ter conquistado o quinto lugar na apuração, a Caprichosos foi aclamada como “campeã do povo”. Além disso, recebeu os prestigiados Estandartes de Ouro de melhor escola e de revelação, este último concedido à porta-bandeira Patrícia.
Intitulado “E por Falar em Saudade…”, o samba-enredo foi composto por Almir Araújo, Marquinhos Lessa, Hércules Corrêa, Balinha e Carlinhos de Pilares, sendo este último também o intérprete. A letra evocava a nostalgia por elementos do passado que desapareceram da vida das pessoas, como “o bonde, o amolador de facas, o leite sem água, a gasolina barata”.
Unidos de Vila Isabel 1988 – “Kizomba”
No centenário da Lei Áurea, a Vila Isabel celebrou a “Festa da Raça” e conquistou seu primeiro título na história do Carnaval. O enredo combateu o preconceito de forma inteligente e descontraída. O desfile foi marcado pela presença de personalidades negras que desfilaram como homenagem aos heróis negros da história brasileira. Além disso, a Vila Isabel inovou ao trazer um carro alegórico que representava o “Barco da Liberdade”, simbolizando a chegada dos africanos ao Brasil.
Em 1987, a Unidos de Vila Isabel passou por uma mudança radical. O Capitão Guimarães deixou a presidência da escola e foi sucedido por Lícia Caniné, conhecida como Ruça, militante do Partido Comunista Brasileiro. Para o carnaval de 1988, Ruça optou por um enfoque politizado no desfile, transformando a celebração do centenário da Lei Áurea em uma manifestação da luta contra o racismo.
O enredo foi concebido pelo compositor Martinho da Vila, então esposo de Ruça, e desenvolvido pelos carnavalescos Milton Siqueira, Paulo César Cardoso e Ilvamar Magalhães. A inspiração partiu da kizomba, termo do idioma kimbundo, de Angola, que denota uma confraternização da raça negra.

Com recursos financeiros limitados, a comissão de carnaval optou por materiais econômicos, como palha, sisal e tecidos com estampas de inspiração africana. Isso resultou em uma escola desprovida de ostentação, mas de impacto visual marcante.
O desfile Sem uma quadra para ensaios, a Vila Isabel preparou-se integralmente no Boulevard 28 de Setembro. Como a sexta escola a pisar na Passarela do Samba na segunda-feira de carnaval, logo em sua abertura, apresentou Paulo Brazão, fundador da escola, representando um Soba, acompanhado por uma comissão de frente de guerreiros africanos. As diversas alas retrataram diversos aspectos da cultura negra, incluindo grupos folclóricos brasileiros que participavam de kizombas em Angola.
O carro alegórico “Quilombo da Democracia Racial” ilustrou a possibilidade de convivência entre negros, brancos, índios, caboclos e mestiços.
O samba-enredo foi composto por Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila, e foi interpretado por Gera e Jorge Tropical.
“Valeu Zumbi
O grito forte dos Palmares
Que correu terras, céus e mares
Influenciando a Abolição”
Beija Flor 1989 – “Ratos e Urubus larguem minha fantasia”
Surpreendendo com um tema inesperado, o lixo, a Beija-Flor provocou impacto ao incluir mendigos em seu desfile. O enredo questionou questões sociais e políticas, rendendo à escola o 8º título. O momento mais marcante do desfile foi a participação espontânea de moradores de rua que foram convidados a desfilar pela escola, mostrando a realidade das ruas do Rio de Janeiro. Além disso, a Beija-Flor inovou ao trazer um carro alegórico que representava uma montanha de lixo, simbolizando o descaso com o meio ambiente.
O enredo “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia” foi concebido por Joãosinho Trinta e apresentado pela Beija-Flor no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro de 1989. Embora tenha conquistado o segundo lugar na apuração, perdendo para a Imperatriz Leopoldinense com “Liberdade, Liberdade”, o desfile marcou a Passarela do Samba como um dos mais impactantes da história do carnaval carioca.

Existem diferentes versões sobre a inspiração para o desfile. Uma delas sugere que Joãosinho Trinta se inspirou em uma mendiga que viu em Londres, em 1988, impressionado por sua elegância. Outra possibilidade é a influência do musical da Broadway “Les Misérables”, que o carnavalesco assistiu. Contudo, uma das versões mais aceitas entre os sambistas está relacionada à insatisfação de Joãozinho Trinta com os elogios excessivos à estética rústica apresentada pela Unidos de Vila Isabel no ano anterior. Na avenida, a Beija-Flor contrastou o luxo das elites com a pobreza dos mendigos que vivem no meio do lixo.
Censura O carro abre-alas originalmente traria uma reprodução do Cristo Redentor vestido como um mendigo. No entanto, às vésperas do carnaval, a Arquidiocese do Rio de Janeiro obteve uma ordem judicial proibindo a apresentação da alegoria. Determinado, Joãosinho Trinta cobriu a alegoria com um plástico preto e acrescentou uma faixa com a frase “mesmo proibido, olhai por nós”.
Resultado Na apuração, a Beija-Flor recebeu três notas 9, nos quesitos samba-enredo, conjunto e evolução. Houve críticas ao refrão “Leba larô, ô ô ô ô/ Ebo lebará laiá laiá ô”, considerado ofensivo à língua portuguesa, e à superlotação da escola, que infringiu as regras de espaçamento entre as alas. No final, Beija-Flor e Imperatriz Leopoldinense empataram em primeiro lugar, mas a Beija-Flor perdeu por ter descartado mais notas 9.
O samba-enredo, composto por Betinho, Glyvaldo, Zé Maria e Osmar, e interpretado por Neguinho da Beija-Flor, destacava os versos “Sou na vida um mendigo/Da folia eu sou rei”.
Imperatriz Leopoldinense 1989 – “Liberdade, liberdade! Abre as asas sobre nós”
Após um ano conturbado, marcado pelo falecimento do carnavalesco Arlindo Rodrigues, a Imperatriz Leopoldinense nomeou Luiz Fernando Reis como seu novo carnavalesco. Em 1988, o enredo “Conta outra que essa foi boa” não obteve sucesso, resultando em penalidades e quase levando a escola ao rebaixamento. Contudo, a decisão da LIESA de anular a punição por tempo evitou o rebaixamento da agremiação, em um episódio considerado por muitos como uma intervenção no resultado do carnaval.
Após esses desafios, o presidente Luizinho Drummond promoveu mudanças significativas na escola, incluindo a volta do intérprete Dominguinhos do Estácio e a contratação do carnavalesco Max Lopes, conhecido por sua atenção aos detalhes e estilo barroco.
Numa noite de atuação magistral e com o enredo icônico “Liberdade! Liberdade! Abre as Asas Sobre Nós”, a Imperatriz Leopoldinense conquistou o título de campeã do carnaval carioca em 1989.

Para o carnaval de 1989, a Imperatriz Leopoldinense apresentou o samba-enredo “Liberdade! Liberdade! Abre as Asas Sobre Nós”, composto por Niltinho Tristeza, Preto Jóia, Vicentinho e Jurandir. O samba, celebrando os 100 anos da proclamação da república, recebeu elogios e posteriormente ganhou o Estandarte de Ouro do Jornal O Globo.
Num desfile aclamado como um dos melhores de sua história, a Imperatriz Leopoldinense impressionou tanto em alegorias quanto em fantasias, conquistando notas excelentes e, após um empate com a Beija-Flor, venceu o título de campeã do carnaval carioca de 1989 pelo critério de desempate do samba-enredo, com sua apresentação impecável e marcante.
“Liberdade, liberdade!
Abra as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz”
Mocidade Independente 1990 – “Vira Virou, a Mocidade Chegou”
Comemorando seu cinquentenário, a Mocidade conquistou o título do Carnaval em 1990. O desfile relembrava sucessos e homenageava figuras importantes, como Mestre André e Arlindo Rodrigues. O ponto alto do desfile foi a apresentação de um carro alegórico em forma de ampulheta, simbolizando a passagem do tempo e os cinquenta anos de história da escola. Além disso, a Mocidade inovou ao trazer uma ala coreografada de passistas com figurinos que representavam as diversas décadas de história da escola, proporcionando uma viagem no tempo aos espectadores.

O samba-enredo “Vira Virou, a Mocidade Chegou”, apresentado pela G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel no Carnaval de 1990, é uma ode à própria escola de samba e uma reverência à rica cultura e história do Brasil.
A partir dos anos 90, a Mocidade viu Renato Lage, conhecido por sua criatividade e abordagem “high-tech”, assumir os desfiles. Em 1990, Lage já demonstrava seu talento ao liderar a Mocidade para a vitória com o enredo “Vira, virou, a Mocidade chegou”. O desfile foi impecável! Apesar de receber uma punição de 5 pontos por ultrapassar o tempo em 5 minutos, a Mocidade permaneceu à frente da segunda colocada, a Beija-flor, por apenas 1 ponto.
Os compositores do samba foram Toco, Jorginho Medeiros e Tiaozinho.
“Ah, vira, virou, vira, virou
A Mocidade chegou, chegou
Virando nas viradas dessa vida
Um elo, uma canção de amor”
Estácio de Sá 1992 – “Paulicéia Desvairada”
Surpreendendo a todos, a Estácio de Sá conquistou seu único título no Grupo Especial com um desfile memorável que celebrou os 70 anos de modernismo no Brasil. O ponto alto do desfile foi a apresentação da bateria, que fez uma homenagem aos grandes nomes da música brasileira que influenciaram o movimento modernista.
A sorte sorriu para a Estácio já no sorteio da ordem dos desfiles: terceira a desfilar, na segunda-feira de carnaval, em um horário privilegiado. Com o público aquecido pelos desfiles anteriores, os 4000 foliões não decepcionaram. Sob a batuta de Mestre Ciça e o samba contagiante de Dominguinhos do Estácio, o desfile foi uma verdadeira catarse na Sapucaí.

A Semana de Arte Moderna de 1922, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, foi relembrada na comissão de frente com 15 integrantes da Intrépida Trupe, em pernas-de-pau, evocando o poema “Inspiração” de Mário de Andrade. A fachada do teatro foi reproduzida no carro abre-alas, mas algumas falhas na iluminação custaram à escola um ponto no quesito alegorias e adereços.
Figuras como o jogador de futebol Roberto Dinamite e a Miss Brasil de 1985, Márcia Gabrielle, marcaram presença no desfile, ao lado de personagens como Maria Lata D’Água e Monique Evans. A simplicidade plástica da escola destacou-se, simbolizando a vitória do samba no pé sobre o luxo, refletida na imagem de Luciana Sargentelli.
As fantasias remeteram a obras modernistas como “Macunaíma” de Mário de Andrade e as “Bachianas” de Villa-Lobos. A alegoria “O Trenzinho Caipira”, inspirada nas “Bachianas brasileiras nº 2”, encantou com 60 crianças a bordo.
Outras alegorias trouxeram esculturas de Brecheret e referências aos Bailes da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), além de mencionar a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana e o Tropicalismo.
O desfile encerrou-se com uma alegoria colorida homenageando Carmen Miranda e Chacrinha. A aclamação na Praça da Apoteose parecia confirmar o título, mas a Mocidade perdeu pontos cruciais no samba-enredo, permitindo à vermelho-e-branco de São Carlos conquistar o único título até hoje. O trabalho dos carnavalescos Mário Monteiro e Chiquinho Spinoza sobre os 70 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo rendeu um desfile inesquecível da comunidade do Morro de São Carlos.
O samba-enredo da escola teve como compositores Djalma Branco, Déo, Maneco e Caruso.
” Modernismo movimento cultural
No país da Tropicália
Tudo acaba em carnaval…”
Salgueiro 1993 – “Peguei um Ita no Norte”
O clássico “Ita no Norte” marcou o Carnaval com seu samba emblemático que ecoa até hoje. A viagem de barco de Belém ao Rio de Janeiro garantiu à Academia o seu 8º título. O desfile foi marcado pela presença de grandes artistas paraenses que desfilaram como convidados especiais, enriquecendo ainda mais a apresentação da escola. Além disso, o Salgueiro inovou ao trazer um carro alegórico que representava a “Procissão do Círio de Nazaré”, simbolizando a fé e devoção do povo paraense.

Havia uma grande expectativa para o desfile de 1993 devido ao samba, que se destacou como um dos mais populares na temporada pré-carnavalesca.
No domingo chuvoso de desfile, os destaques foram a Vila Isabel, com um samba de Martinho da Vila, e a Mocidade, que trouxe um enredo sobre jogos e impressionou com o uso de tecnologia. Na segunda-feira, desfilaram a Grande Rio (campeã do Grupo A em 1992), seguida pela Caprichosos de Pilares, Salgueiro, Unidos da Tijuca, Estácio (defendendo o título), Beija-Flor e Mangueira.
Quando o Salgueiro adentrou a Sapucaí, foi com uma garra e entusiasmo impressionantes. O público aclamou a passagem da escola, cantando o samba com toda a energia, como nunca visto antes no Sambódromo.
O enredo da escola, idealizado pelo carnavalesco Mario Borrielo, foi inspirado em uma canção de Dorival Caymmi e retratava a viagem do navio Ita, desde Belém do Pará até o Rio de Janeiro, trazendo os sonhos dos migrantes por uma vida melhor.
O desfile começou com o Círio de Nazaré, em Belém, passando pelo Nordeste, representado nas alegorias: os azulejos de São Luís do Maranhão, as areias do Rio Grande do Norte, a cultura pernambucana (com frevo e maracatu), e a culinária baiana (com as baianas, todas de branco). As alegorias não apresentaram muitas inovações estéticas, mas foram bem executadas e contaram a história do enredo de forma cativante.
Alguns contratempos, como a queda da porta-bandeira Taninha em frente à cabine dos jurados e a correria no final do desfile devido ao grande número de componentes (cerca de 5.500), não desanimaram o público, que aclamava a escola como campeã. Felizmente, a escola conseguiu terminar o desfile dentro do tempo, apesar da preocupação nos momentos finais. O Salgueiro se posicionou como forte candidato ao título que buscava há tanto tempo. Após sua passagem, foi praticamente impossível superar toda a emoção e euforia daquela apresentação.
O sambista Neguinho da Beija-Flor afirmou, em entrevista, que ao ouvir a apresentação, já tinha certeza de que a escola, mesmo sendo a terceira a desfilar, havia ganhado o carnaval daquele ano.
O famoso “Explode Coração” foi composto por Demá Chagas, Arizão, Guaracy e Celso Trindade.
“Explode coração
Na maior felicidade
É lindo o meu salgueiro
Contagiando, sacudindo essa cidade”
Viradouro 1997 – “Trevas! Luz! A explosão do Universo”
Conquistando seu primeiro título, a Viradouro apresentou um desfile marcante que intensificou o enredo na Avenida com empolgantes paradinhas do Mestre Ciça. O ponto alto do desfile foi a apresentação da comissão de frente, que fez uma representação teatral da explosão do universo, deixando o público impressionado com sua criatividade e beleza. Além disso, a Viradouro inovou ao trazer um carro alegórico que representava o “Big Bang”, simbolizando o início do universo e a explosão de cores e formas.
A Viradouro conquistou o título do Carnaval do Rio em 1997 com o samba-enredo “Trevas! Luz! A Explosão do Universo”. A apresentação começou com uma comissão de frente que representava os átomos antes do “big bang”, o evento que deu origem ao universo. Em seguida, um abre-alas totalmente preto, intitulado “Carro do Nada”, simbolizava as trevas, gerando polêmica por sua monocromia.

Em contraste com o primeiro carro, a segunda alegoria era chamada de “A Luz”, enquanto a terceira representava “A Terra”, mostrando o globo em alta temperatura, ainda com tonalidades avermelhadas.
Sob a direção do carnavalesco Joãosinho Trinta, a inovação mais marcante do desfile foi a introdução da “paradinha funk” pela bateria do Mestre Ciça. Naquela época, esse recurso quase não era utilizado nos desfiles. Joãosinho Trinta trouxe uma nova visão dos primeiros momentos da criação do universo, associando o contraste entre o branco e o escuro dos componentes de sua escola à ideia da matéria e da antimatéria que predominou nos instantes iniciais do universo, transformando aquele momento em uma explosão de alegria.
O samba foi escrito por Dominguinhos do Estácio, Mocotó, Flavinho Machado e Heraldo Faria.
“Lá vem a Viradouro aí, meu amor!
É Big-Bang, coisa igual eu nunca vi!
Que esplendor!”
Porto da Pedra 1997 – “No Reino da Folia, cada louco com a sua mania”
Em 1997, a Porto da Pedra conquistou um respeitável quinto lugar, garantindo sua participação no desfile das campeãs. Naquele ano, a escola trouxe ao sambódromo uma homenagem à loucura. Sob o enredo “No Reino da Folia, Cada Louco com a Sua Mania”, idealizado pelo carnavalesco Mauro Quintaes, a Porto da Pedra contou com a participação de pacientes e funcionários do hospital psiquiátrico Pinel. Embora o Salgueiro também tenha abordado o mesmo tema, a Porto da Pedra obteve uma classificação superior.

O samba-enredo, criado por Carlinhos, Pinto e Vadinho, destacava: “Eu canto, eu pinto, eu bordo! Sapucaí é a tela! Porto da Pedra enlouquece a Passarela”, abordando a (in)sanidade e a complexidade da vida. O refrão alertava: “Nem todos os que aqui estão são loucos. Nem todos que são loucos aqui estão”.
Império Serrano 2006 – “O Império do Divino”
Celebrando as manifestações religiosas do país, o desfile honrou São Jorge e encerrou com um samba antológico composto por Arlindo Cruz. O ponto alto do desfile foi a apresentação da ala das baianas, que fez uma homenagem especial às mulheres devotas de São Jorge, trazendo uma aura de fé e devoção para a Sapucaí. Além disso, o Império Serrano inovou ao trazer um carro alegórico que representava o “Altar Sagrado”, simbolizando a conexão entre o céu e a terra.

Com o enredo “O Império do Divino”, idealizado por Paulo Menezes, a Império apresenta 15 festas religiosas tradicionais do país. “Boi Bumbá, padre Cícero, a lavagem do Bonfim e o Círio de Nazaré são alguns dos temas abordados em nosso desfile”, revela Pedro Mazzoni, vice-presidente de Carnaval da Império.
Um dos destaques é uma procissão de Corpus Christi, com 40 pessoas que estarão no segundo carro alegórico da escola. O último carro também chamou a atenção ao trazer uma estátua de São Jorge com nove metros de altura.
A comissão de frente trouxe uma surpresa. “Os 15 integrantes representam todas as festas e vinham com um jogo de luz que dá um efeito todo especial na avenida”.
Já as baianas da escola representam a Lavagem do Bonfim, considerada a segunda maior manifestação popular da Bahia, perdendo apenas para o Carnaval. O ritual, que ocorre desde 1754, reúne milhares de pessoas e acontece sempre na segunda quinta-feira do mês de janeiro. A escola desfilou com 4.000 integrantes e 32 alas.
O samba composto por Arlindo Cruz, Maurição, Carlos Sena, Aluízio Machado e Elmo Caetano foi um dos destaques do carnaval do Império.
“O meu Império é raiz, herança
E tem magia pra sambar o ano inteiro
Imperiano de fé não cansa
Confia na lança do Santo Guerreiro
E faz a festa porque Deus é brasileiro”
Unidos da Tijuca 2010 – “É Segredo”
Em 2010, a Unidos da Tijuca apresentou o enredo “É Segredo!”, conquistando seu segundo título de campeã do carnaval carioca, 74 anos após sua primeira vitória em 1936. Sob a direção do carnavalesco Paulo Barros, o enredo explorou os mistérios da humanidade e da natureza, abordando personagens misteriosos como super-heróis e truques de mágica.

A vitória da Tijuca veio com uma margem estreita de cinco décimos sobre a vice-campeã, Grande Rio. A escola recebeu cinco notas abaixo do máximo, das quais quatro foram descartadas de acordo com as regras do concurso. Isso resultou em uma perda de apenas um décimo na avaliação oficial. Desfilando como a terceira escola na primeira noite do Grupo Especial, a Tijuca quebrou o paradigma de que nenhuma escola havia vencido nesta posição anteriormente.
O retorno de Paulo Barros à Tijuca foi marcante, assim como a estreia do casal de mestre-sala e porta-bandeira Giovanna Justo e Marquinhos, após quinze anos na Mangueira. O samba-enredo, composto por Júlio Alves, Marcelinho Calil e Totonho, foi escolhido entre dezesseis obras concorrentes.
“É segredo, não conto a ninguém
Sou Tijuca, vou além
O seu olhar, vou iludir
A tentação é descobrir”
O desfile recebeu elogios da imprensa especializada, sendo descrito como “histórico” e “arrebatador”, enquanto o trabalho de Paulo Barros foi considerado “revolucionário”. A comissão de frente, coreografada por Priscilla Mota e Rodrigo Negri, foi especialmente destacada, com bailarinas realizando trocas de roupa em segundos usando o truque de ilusionismo Quick-change. Vencedora de todos os prêmios de carnaval, essa comissão se tornou antológica e influenciou o quesito nos anos seguintes.
União da Ilha 2014 – “É Brinquedo, É Brincadeira, a Ilha Vai Levantar Poeira”
Transportando todos de volta à infância, a União da Ilha encantou com um desfile divertido que provocou uma onda de nostalgia. O ponto alto do desfile foi a apresentação da bateria, que fez uma homenagem especial aos ritmos infantis, trazendo uma energia contagiante para a Sapucaí. A União da Ilha do Governador encantou o público da Sapucaí com uma viagem nostálgica pela infância, em um desfile repleto de criatividade e diversão. Entrando na avenida às 22h30, a escola, em 81 minutos, trouxe à vida o tema do enredo: “É brinquedo, é brincadeira, a Ilha vai levantar poeira!” desenvolvido pelo carnavalesco Alex de Souza.

Desde o início da apresentação, a nostalgia tomou conta do sambódromo. A comissão de frente, coreografada por Jaime Arôxa e com a participação de artistas circenses da Austrália e do Cirque du Soleil, encantou com sua dança. Um casal de idosos abriu um enorme baú de memórias, repleto de brinquedos que marcaram suas infâncias, como fábulas, monstros e palhaços. Em seguida, um enorme bebê engatinhou no primeiro tripé, acompanhado pelo primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. A belíssima fantasia de Christiane Caldas representava um grande dado, enquanto ela dançava ao redor de 28 peças de dominó com Marcinho.
O desfile foi tão cativante que garantiu à União da Ilha o retorno ao desfile das campeãs e uma das melhores posições já alcançadas pela escola no carnaval carioca.
O divertido samba-enredo foi composto por Paulinho Poeta, Régis, Gabriel Fraga, Carlinhos Fuzil, Canindé e Flávio Pires.
“Hoje a ilha vem brincar, amor!
Vem comigo cirandar que eu vou
Dar meia volta, volta e meia no seu coração
Ser criança não é brinquedo não!”
Paraíso do Tuiuti 2018 – “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”
O desfile histórico da Paraíso do Tuiuti no Carnaval carioca de 2018 escancarou os golpes contra os trabalhadores brasileiros. Com o enredo “Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?”, a escola de São Cristóvão garantiu o vice-campeonato, denunciando a escravidão moderna e criticando as reformas trabalhista e da Previdência. O tema foi desenvolvido por Jack Vasconcellos.

O desfile foi marcado pela representação de Temer como um “vampiro neoliberalista” e pelos “manifantoches” montados em patos da Fiesp, aludindo aos protestos pró-impeachment de Dilma Rousseff. A escola relembrou a marginalização dos negros após a Lei Áurea e destacou a luta dos trabalhadores pela proteção da CLT.
A Comissão de Frente, intitulada “O grito de liberdade”, emocionou o público com sua representação da escravidão. Premiada com o Estandarte de Ouro, a escola foi aclamada como a sensação do Carnaval 2018, levando o prêmio Escola de Ouro e os troféus de Comissão Sensação e Samba do Ano.
O histórico samba-enredo teve a composição de Claudio Russo, Moacyr Luz, Jurandir e Aníbal.
“Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação”
Grande Rio 2022 – “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”
“Fala, Majeté! Sete chaves de Exu” foi o enredo apresentado pela Acadêmicos do Grande Rio no Carnaval do Rio de Janeiro de 2022, com o qual a escola conquistou seu primeiro título de campeã do Grupo Especial carioca. O samba-enredo homônimo, composto por Gustavo Clarão, Arlindinho Cruz, Jr. Fragga, Claudio Mattos, Thiago Meiners e Igor Leal, recebeu diversas premiações.

O enredo, assinado por Gabriel Haddad, Leonardo Bora e Vinícius Natal, buscou desvendar a figura de Exu, apresentando aspectos do orixá/entidade sob “sete chaves”. A Grande Rio desfilou como a quinta escola na segunda noite de desfiles, realizada em abril devido à Pandemia de COVID-19. Recebendo aclamação da imprensa especializada, o desfile foi descrito como “histórico”, “impecável”, “apoteótico” e “arrebatador”, sendo considerado por alguns especialistas um dos melhores do século. A escola levou todos os principais prêmios de carnaval, incluindo o Estandarte de Ouro de melhor escola. Seu samba-enredo também foi o mais premiado do ano. A bateria, comandada por Mestre Fafá, também recebeu destaque, conquistando o Estandarte da categoria.
A Grande Rio venceu com uma vantagem de três décimos sobre a vice-campeã, Beija-Flor. Com apenas duas notas abaixo da máxima, no quesito samba-enredo, e uma das notas descartada conforme o regulamento, a escola perdeu apenas um décimo na avaliação oficial. A vitória foi amplamente celebrada por celebridades nas redes sociais e causou um aumento significativo de 418% nas buscas pelo nome “Exu” no Google.
“Adakê Exu, Exu, ê Mojubá
Ê Bará ô, Elegbara
Lá na encruza, a esperança acendeu
Sou Grande Rio, Grande Rio sou eu”
Certamente, ao longo dos 40 anos de história da Marquês de Sapucaí, houve inúmeros desfiles e momentos inesquecíveis que deixaram uma marca indelével no Carnaval carioca. A escolha de um desfile representativo de cada escola é apenas uma pequena amostra do rico legado que essas agremiações construíram ao longo das décadas. Cada desfile, com sua criatividade, ousadia e emoção, contribuiu para a grandiosidade e a magia dessa festa tão querida por todos os brasileiros.
E é a variedade do que é apresentado a cada ano que faz o carnaval se reinventar continuamente, nos preparando para desfrutar de mais carnavais apoteóticos! Preparados?
POR LUCAS RONERES.
Gostei do site. Muito sucesso e parabéns.
Incrível o site e principalmente a reportagem. Parabéns! Obrigado pela oportunidade dos sambistas terem mais uma opção para saber sobre os bastidores do carnaval.