O Carnaval de 1970 marcou um momento especial para o Salgueiro, que trouxe à avenida um enredo dedicado à cidade do Rio de Janeiro e aos primórdios do carnaval. Com “Praça Onze, carioca da gema”, a agremiação prestou uma homenagem tanto à cidade quanto às escolas de samba, celebrando o local onde o samba nasceu e as primeiras agremiações surgiram.

Pela primeira vez, a lendária Praça Onze, reduto da Tia Ciata e berço do samba, foi tema central de um desfile de escola de samba, oferecendo ao público uma versão emocionante sobre o surgimento do ritmo que se tornaria a marca registrada do carnaval carioca. O Salgueiro, com maestria, delineou uma genealogia para as escolas de samba e para o próprio ritmo do samba, destacando a importância dos pioneiros do Estácio de Sá, liderados por nomes como Ismael Silva e Bide, na criação da sonoridade característica das escolas de samba.
O enredo “Praça Onze, carioca da gema”, desenvolvido pelo renomado carnavalesco Fernando Pamplona em conjunto com Arlindo Rodrigues, transportou os espectadores para o universo mágico da Praça Onze e suas histórias. Desde os tempos da onça até o nascimento do samba e da malandragem, o Salgueiro mostrou em seu desfile a riqueza cultural e a diversidade do Rio de Janeiro.

O samba-enredo, intitulado “És carioca da gema”, foi composto por Miro, Silvio, Duduca e Omildo, e interpretado por Noel Rosa de Oliveira, encantando o público com sua melodia envolvente e sua letra que exaltava a tradição do samba brasileiro e os momentos de boemia e alegria vividos na Praça Onze.
Sob a liderança do presidente Osmar Valença e a direção de carnaval de Laíla, o Salgueiro reuniu um contingente de 1500 componentes para apresentar seu espetáculo na avenida. A bateria, comandada por Almir Guineto e Gavilan, contava com 170 ritmistas, enquanto o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Estandília e Elcio PV, encantava o público com sua elegância e leveza.
SINOPSE DO ENREDO:
Os Acadêmicos pedem licença, ao som seus tamborins e, na base do ronco da cuíca, apresentam seu assunto “Carioca da gema” numa empolgação à Praça 11. O “Abre-Alas”, porta-bandeiras e mestre-sala simbolizando todas as escolas, abre o desfile cuja comissão de frente mostra os pilantras de todos os tempos.
No tempo da onça, pregões, o divino da Igreja de Santana, a chegada do negro, o aglomerado nortista dominando o baiano, barafunda geral, abrem o jogo!
Substituindo o tradicional desfile cronológico, o Salgueiro castiga o “tema” para mostrar, abertamente, do jeito que pode, o milagre do casamento religioso, social, racial e da cultura de todas as raças que fizeram o Brasil, país único, magistralmente sintetizado no complexo cultural que explodiu na Praça 11.
Tocando o peito e continuando o cortejo, diz o que pode:
Diz do divino, dos botecos, da sinuca, da pilantragem, do nascimento do samba, da malandragem, do tempo das melindrosas, das casas coloniais, dos primeiros desfile, da sacanagem, vadiagem, cidade largada, solta, livre, sua gente e seu jeito, té logo!
Pra acabar o assunto, diz do “Carioca da gema” que apesar de tudo, trabalha paca!
O resto é com as pastoras e com o povo que certamente cantará:
Abre a Roda meninada
Que o Samba Virou batucada!
SAMBA ENREDO:
Compositores
Miro, Silvio, Duduca e Omildo
Intérprete
Noel Rosa de Oliveira
És carioca da gema,
Digna de um poema,
Ó Praça Onze,
Eterna capital
Do nosso samba brasileiro,
Tradição do carnaval.
Nas madrugadas em festas,
Boêmios esqueciam serestas
Para comporem os grupos de batuqueiros
Iluminados pela luz de candeeiros.
Tia Ciata,
Que era bamba pra valer,
Não desprezava um pagode
Antes do dia amanhecer
Oi, abre a roda, meninada,
Que o samba virou batucada
Pau pau-pereira
Pau-pereira ingratidão
Todo pau o vento leva
Só o pau-pereira não
Fontes:
Fontes importantes para esta pesquisa incluem o site Galeria do Samba e o arquivo “Os Acadêmicos do Salgueiro: Uma escola de samba engajada”, do autor Guilherme José Motta Faria, que oferecem insights valiosos sobre o carnaval e a trajetória do Salgueiro ao longo dos anos.